terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O bom amigo


Era um daqueles dias, em que o tédio invadia e assolava meu ânimo, eis que, um velho amigo me convida para uma daquelas reuniões de "bons amigos". Sim, pois ali, um dos seus melhores amigos não vai com a cara do outro, que tenha picuinha com fulano, que fulano não gosta de ciclano e, por fim, sempre tem aquele rapaz metido a "Don Juan" com quem ninguém vai com a cara.
Enfim, sem titubear, fui. Já tinha me arrependido de aceitar tal convite, mas morrer de tédio não é solução.

Chego, aquele abraço de bons amigos (o anfitrião é costumeiramente um excelente amigo, contudo, intolerante a atrasos) e ele cobra:

_Pô, cara! Que demora, hein?
_Vim caminhando. Sem grana pra ônibus, diabetes... sabe como é. - respondi, com sorriso blasé e tom irônico.
_Continua o mesmo! Maluco! - dizia, e gargalhava.


Bem, num modesto gesto, acenei para os 3 presentes, apenas um rosto me era desconhecido, e cumprimentei a namorada do anfitrião (gente boníssima, só meio... excêntrica), e segui à mesa, para entrar nos jogos, papos e afins.
Clima de taverna medieval, todos comendo petiscos e falando besteiras nostálgicas, aquela zoeira dos dois que aparentam ter ódio mortal do desconhecido (ciúmes do amigo novo?), e até a namorada do anfitrião já havia se enturmado com os bárbaros famintos e insanos.
Papo vem, cerveja vai, todo mundo rindo sem problemas, até que o bom amigo sugere uma pizza, e requisita à mim:

_Faz um favor? Pega minha carteira na mochila ali, encostada?
_Sem problemas. - respondi, e tornei a procurar a carteira, na mochila encostada no canto do salão.

Achei a bendita carteira, mas estava junto de uns daqueles souvenirs de motel.
Eu fiquei pensando em tirar um sarro, mas resolvi guardar o comentário para outro momento mais propício (resumindo: que não fosse em frente a namorada do camarada).
Entreguei a carteira, e desci as escadas para buscar mais uma caixa de cerveja.
Subindo, vi que ele pediu ao desconhecido que buscasse algo na mochila (as chaves do carro, talvez) e o rapaz, todo serelepe, foi cambaleando até o destino.
Todos na mesa conversando, eis que um grito, meio embriagado, ecoa o salão:

_Ê! Marcião, tá comedor hein? - gritou, mostrando os "souvenirs de motel" (ok, ok... shampoos, e sabonetes, pra quem não sabe), como se fossem troféis de caça.

Olhei pro lado, a namorada dele fechou a cara (depois que eu fui saber... ela era virgem), levantou-se e desceu, direto à porta de saída.
A reunião acabou ali, o clima ficou chato, todo mundo foi embora... e o bom amigo, expulsando o desconhecido com tabefes e chutes, enquanto corria atrás da ex-namorada.

Confesso... assisti de longe, morrendo de rir.

Nenhum comentário: