segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Virilité... Piano Oiseau


Vocês sabem pouquíssimo sobre mim.
Ou, acham que sabem.

Não há equívoco.
Afinal, vivo descobrindo.
Descobrir, mantém-me vivo.

Vocês, cegos e fracos de espírito;
à mim, digo, são como vômito.
Aliviam, contudo, estorvam.

Sou carne, sou afã.
De longe, azáfamo e sério.
Por perto, sou espirituoso e aprazível.
O vício e dor; consumo e cansaço.
Bom e delicioso; ânimo e disposição.

Contudo, sou um recurso àqueles que sabem usufruir.
O néctar, saboroso e doce, à não tão faminta boca.
Não sou megalomaníaco.
Depende de ti, saber diferenciar tolice, de verdade.
Pra que tanta seriedade?
Seja astuto.
Seja, quando necessário, inclemente.

Afinal, amor pode ser para os tolos;
quando bem utilizado e interpretado, para sábios.

sábado, 11 de outubro de 2008

Lâminas e suspiros


Ah! A negação...

Todos diziam... amigos, inimigos, parentes e desconhecidos.
Alguns, com o intuito de me empurrar para o penhasco;
outros, com o intuito de forçar-me a caminhar.

Sem objetivo.
Tudo é tão fácil pra quem vê. E agora?
Fraqueza de minha parte? Equívoco?
Não sei. Nem me importo.

Afinal, qual o propósito?
Eles só falam, só reclamam. Teus gritos me afligem.
Sinto que falhei. Ninguém disse, apenas o dia e minha intuição.

Sim! Falhei contigo... falhei convosco.
Agora fico aqui, novamente, nesse penhasco.
Sabe? A visão não é tão ruim, por mais que seja monocromática.
Vejo-os, comemorando.
Vejo-os, dando-me as costas.
Vejo-me, sentado, pensando.

Pensar dói.
Sempre tive essa conclusão, contudo, sou estúpido.
Quanto mais quero me libertar do sofrimento, mais quero pensar.
É um paradoxo.

O cheiro de cinzas, a angústia... a sua voz enfraquecida, enraivecida.

Ó besta, onde estás?
Não ruge com tua força, não percorre mais aquele caminho estreito?
Medo? Ira?
Sinto-me mais bestial do que ti.

Um chuva de espinhos finos... chamados "Saudade".
Fincam-se na pele, e só dói quando toco nos mesmos.
Um momento, e meu corpo absorve-os.
Vejo que aqui não é meu lugar, pois tudo mudou de uma forma tão drástica.
Eu mudei. E ninguém me conhece mais.
Poucos, são os que posso chamar de amigos.
Mesmo assim, a desconfiança ainda rodeia-me como uma labareda, cada vez mais forte.

Eu apenas assisto, e fico gargalhando.
Alguns acham que tem minha confiança... pouco sabem da "verdade".
Eles não tem a necessidade de saber, pois se a tivessem, haveriam perguntado, não é mesmo?

Perdoem-me

Não posso me acostumar a "estar".
Parece que, por mais que eu saiba atrair as pessoas, estou destinado a viver sozinho, viver feito um fantasma.
Poucos me vêem, alguns tem medo, e outros nem notam minha presença.
Não vou aderir "esse" defeito, como crueldade divina. Talvez, eu tenha escolhido "isso".
Sei conviver com "isso".
O problema, é quando faço contato... desacostumo.
Minha Consciência aconselha-me: "Não vá... eles irão esquecer de tua existência, e voltarás, deprimido, ao seu posto inicial".

Mas, como falei, sou estúpido.

Ironicamente, hoje senti saudades de algo que nunca vi, senti, ou cheirei.
É horrível. Péssimo, desgastante, além de ridículo.
Déjà vécu? Déjà senti?
Não sei.

Acho que estou enfraquecendo...
Preciso medir meus passos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

The Edge


Mais uma vez. Outro dia.

Som baixo, a voz escorrida... tudo é tão triste.
Segredos, mentiras, e falsidades.
Uma pena. E o dedo, em riste.

Não é uma questão de dividir.
Estou respirando pó de vidro.
Liberdade? Ir e vir?
Pode ser. Marque para amanhã, não estou me divertindo.

Hoje não estou. Hoje, não sou.
Estamos feridos... Eu e eu.
Respirar cansa, e cansar, dói.

Me seguram... não quero.
Deixe-me pular novamente desse penhasco, de peito, em direção àquelas estalagmites.
Tuas mãos, tão tenras; teu toque, tão suave.
Essa sedução. Essa maldição.
Não há melodia, não há ave.
Não procurei, e caí num alçapão.

Ah, que preguiça.
Quero ficar caído aqui, sangrando.
Preguiça de agonizar, preguiça de levantar.

Deixe a maré me empurrar...


... até ela cansar.

Rumos


Cinza, gelado, péssimo.

E eu aqui... parado.

O guerreiro da fronte, que aguenta todos os golpes primários.
Aquele, que é capturado pelos inimigos, e dado como morto pelos companheiros... o pobre diabo.
Escapa, com as piores condições. Descalço num pântano mais venenoso do que um exército de Taipans.
Sobrevive... dado como morto pelos inimigos, e os companheiros chamam-no de desertor.

Tantas coisas, e aquele guerreiro vê, que não é um inútil. Tua vida tem propósitos.

"Pra onde ir? Com quem falar?
O quê falar? Por que?"

- Maldição... de que me adianta o dom e a habilidade, se oportunidades não surgem? - indagava.
- Talvez, alguém não queira que você morra... - respondia, sua Consciência.
- Mas quer que eu sofra, também. - retrucava.

Não podes procurar por verdades, pois necessita de um mínimo de oportunidade.
Descobristes as trevas, e parte do paraíso. Cumprirás tais tarefas que lhe foram impelidas?

- Não. Não mais irei viver pelos outros. - respondia, decidido.
- Então, que assim seja! Sigamos! - dizia a Consciência, alegre.

A verdade não importa.
Valores não importam.
Viva cada momento de glória e felicidade, para que a nostalgia valha a pena, guerreiro.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Chuva de brasas


Verdade seja dita.

Muitas vezes, detrás da besta, há um homem.
Aquele "pequeno"... o rapazote.

A casca que foi desenvolvida, a proteção e o veneno com a qual a verdade foi banhada, e o rapaz perde-se.
Tão sólida e resistente, que é impossível recuperar aquela... pureza.
Tudo caminhava de uma maneira tão lenta, contudo, quando olhei para trás havia caminhado por sobre três mundos... os piores.
Era tão péssimo, que me acostumei. Tornei-me um animal, uma besta, enquanto meu lado humano dava adeus.

O caminho era longo, e ainda não me acostumava com aquele corpo "bestial".
Forte, ágil, viril e sagaz.
A velocidade era intensa, constante. Percorria feito um lobo, e tinha a visão de uma águia.
Quando notei, já não era mais "eu". Eu era, mas não era "eu"

Fui fraco, e tornei-me um animal.
Sucumbi à besta, e a casca tornava-se mais sólida e grossa.

Cada vez mais, me sinto péssimo por ter que voltar aquele caminho... a pé.
Tenho controle da besta, mas a casca que envolve minha essência me desafia.

Somos um.
Mas não sou eu.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Big Sam, e o velho Morcego 204


Big Sam, como era chamado, o desconhecido da estrada.
Falava pouco, e por isso, pouco se sabia desse velho homem.
Possuía uma velha caminhonete, contudo, potente como um corcel bem tratado e forte como um leão viril e corajoso, a qual ele denominava "Morcego 204".

Big Sam aparentava ter um amor especial pela caminhonete... algo completamente bizarro.
Não tinha família, ou amigos. Todos temiam-no, pois algo em teu passado aterrorizava os preconceituosos.
Diziam que Sam envolveu-se numa briga em um pub - desses, em beira de estrada - e matou dois homens.
Outros, falavam que Sam não tinha moradia, pois havia assassinado a ex-mulher, e que a mesma assombrava a casa.

Estórias. Quem falava a verdade?

Tinham, também, as pessoas que diziam apenas que Sam era um velho caquético e anti-social;
Outros, diziam que o mesmo era tímido por causa de problemas familiares.

Bem, só digo o que já vi... Sam tem um bom coração.

Posso dizer que tenho uma vida normal.
Trabalho no Posto 708, o bebedouro dos que tem sede por aventura.
Sam sempre abastece comigo, porém, fala pouco. Ou melhor, o bastante.

- Pode encher o Morcego. - pedia, falando de sua caminhonete.

Contudo, em frente ao posto, uma senhora idosa guiando uma Opala 72, acertou um rapaz que dirigia uma Harley.
O pobre coitado, foi arremessado muito longe.
Big Sam pegou o velho Morcego 204, e correu para tentar ajudar o rapaz - nisso, a velhinha já havia se mandado.
Só ouvi Sam dizer:
- Volto para acertarmos! Desculpe! - disse, partindo com o rapaz ferido, logo em seguida.

Bem, não tardo a dizer que tudo passou por minha cabeça (essa é a desvantagem de se morar num lugar quase que isolado do mundo externo), desde Sam desmembrando o rapaz e vendendo os pedaços para alguma tribo de canibais, ou levando o rapaz para a cidade em perfeitas condições, e recebendo algum tipo de bonificação milionária pelo feito.

Já havia esquecido o fato, e Sam, já havia pago o que devia, quando o rapaz surge e pergunta:
- Onde está o senhor que socorreu-me aquele dia? Ele mora por aqui?
Expliquei a ele que nunca fiquei sabendo se Sam ao menos tinha uma casa.
O rapaz pediu-me um favor:
- Você poderia agradecer em meu lugar? Raramente passo por essa estrada, e temo que não possa agradecer ao senhor que me salvou... - olhou para baixo, respirou fundo e continuou - se possível, entregue isto à ele. - e entregou em minhas mãos, um envelope.
Respondi que sim, e o rapaz partiu, meio cabisbaixo.

Três semanas se passaram, e não tinha notícias de Sam.
Comecei a ficar preocupado quando o rapaz retornou para perguntar se eu havia entregado o envelope para Sam.
Disse que não via Sam, por quase um mês.
O rapaz mostrava-se decepcionado, e entregou outro envelope à mim, repetindo o pedido anterior.

Era domingo.
Recebi o jornal (entregue apenas nos finais de semana), e procurei por notícias que pudessem indicar algo relacionado a Sam.
Descobri na seção de finados, que Sam morrera de infarte.
A princípio, fiquei muito triste.
Achei que fosse maldade de minha parte, mas resolvi que abriria um dos envelopes, para ver do que se tratava:

"Pai, desculpe por ter ficado longe do senhor por todos esses longos anos. Achava que você fosse arrogante, egoísta, e ignorante, pois vovó nunca gostou do senhor, e falava coisas horríveis de ti. Tudo mudou, quando descobri que aquele homem que socorrera-me com tanto cuidado, era meu pai. Todas histórias, deboches, mentiras e fraquezas desintegraram-se para mim. Pai, volte pra San Francisco... temos muito para conversar

Joe"


É... acho que a vida não é tão justa.
Jurei a mim, que não abriria o outro envelope.
Não até minha pena por Sam esvair-se.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Vontade. Quero.


"Sinos bateram, e os sons repercutiram em todo meu corpo.
Amo estes sons..."

Aquela vontade súbita de escrever atacou-me.
Porém, minha inspiração não está presente.
Reviravoltas, e meu ser mudou num piscar de olhos... sem mentiras.

Sim! Num momento de morte e profunda reflexão em erros, uma vontade ENORME de estar alegre, flamejou em meu peito.
Não era eu. Faltava pouco.

Ó, mas que milagre! Finalmente, piedade.
Corpo, mente e alma, estavam fatigados de tanto agirem sozinhos. Nada bastava, e doía só de ouvir e respirar.

Após incendiar meu ego, fiquei um tanto livre.

Mas quero voar novamente... não com essa asa.
Dolorida, fatigada;
bela, e delicada.

Queres ser minha asa? Acompanhar-me, e estar ao meu lado?

Acompanhar-me-ás? Convido-te.

Amo-te, pedaço de mim.
Porém, é assim como te julgas, e não suportarás minha besta-fera por muito tempo.

Vita.
Alegria.